A blogsfera materna é um espaço aberto para compartilharmos ideias e vivências como eu já disse aqui. É um importante instrumento para abordagem dos mais variados temas, principalmente no âmbito do "universo gravídico".
O MMppv abre este espaço para que outras mamães e papais dêem sua contribuição, seu depoimento pessoal acerca da gestação. Seus medos, sonhos e suas convicções lapidadas ao longo da vida. Um relato fiel e verdadeiro do caminho percorrido neste momento tão especial.
DEPOIMENTO DE ROSALBA VIEGAS, 61 ANOS, ESTUDANTE
SONHOS DE UMA VIDA
Sempre sonhei em ser mãe. Me imaginava cuidando, criando e educando meus filhos. Me casei na década de 60, em meio a ditadura militar, onde àquela época muitas mulheres ainda desempenhavam o papel básico de esposa: casa, comida e filhos {não se assustem, isto era muito comum na minha época}. O casamento veio e com ele as atribuições intrínsecas. Mas faltava o principal: os filhos. O curso natural da vida não me contemplava com filhos. E eu não conseguia entender e nem tampouco aceitar isso. Os recursos daquela época eram muito limitados, a cada mês que a gravidez não vinha, eu me dilacerava, frustrada diante da minha incapacidade de gerar vida. Eu via minhas vizinhas, amigas e irmãs já com três, quatro filhos {sim, naquele tempo os casais ainda tinham mais de dois filhos} e me preconceituava como infértil, como inapta para ser mãe.
Por muitos anos convivi com esta dor. A compreensão velada do marido não bastava, eu sabia que no íntimo ele me condenava. Afinal, o casamento pedia, implorava por filhos. Tentei de tudo, ou melhor, quase tudo. Os médicos não conseguiam diagnosticar a real fonte da minha infertilidade, foram muitos os relatos científicos, muitos os profissionais consultados e poucas eram as expectativas de sucesso. Até que um dos médicos aventou a possibilidade do marido ser infértil. Era um tema delicado demais para ser tratado, tal qual ainda é atualmente, em lares muito machistas como o meu. Eu não trabalhava, não por falta de vontade ou por enaltecimento da profissão "do lar", eu não trabalhava porque o esposo não permitia. Ele dizia: "Não vejo a necessidade de você trabalhar, nunca lhe faltou nada." E infelizmente eu compactuava, ou melhor, consentia com tamanha arbitrariedade. Como acontece com inúmeras mulheres por aí afora. Tive vontade de estudar e acabei por amordaçar mais este sonho.
Eu não sabia como abordar a possibilidade do marido não ser capaz de produzir vida. Isto era diminuir a capacidade do indivíduo como homem. Era inaceitável para muitos. E no meu caso não fugiu a regra. Quando toquei no assunto, parece que toquei em chagas, tal qual a sua desmedida reação de pavor. Infelizmente ele não compreendeu em vida que negar a possibilidade da infertilidade masculina era negar a nós mesmos o direito de um dia sermos pais. Sinto que tudo teria sido diferente, caso se confirmasse o problema e juntos partíssemos em busca da solução.
Como disse anteriormente, em vida isto não foi possível. Meu marido veio a adoecer subitamente e em seu leito de morte me pediu perdão por todas as privações que vivi ao seu lado e a maior delas, o desejo de ser mãe. Em suas sussurradas e cansadas palavras, ele me confidenciou que assim que desconfiara de sua incapacidade, ainda que contra as suas convicções ultrapassadas, procurou ajuda sem que ninguém soubesse e inevitavelmente havia constatado a sua infertilidade. Confessou-me ainda que desejava adotar um filho, para que nossas vidas fossem plenamente preenchidas. Mas que o tempo não o contemplou com tamanha felicidade, e mesmo tendo vivido uma vida amorosa ao meu lado, ele partiria sem realizar o meu maior sonho.
Abracei-o carinhosamente e o perdi.
Compreendi naquele instante a sua culpa e consenti com o perdão. A partir dali, busquei realizar meus sonhos. Voltei a estudar, debruçando sobre o novo e aprendendo a viver novas etapas. Adotei dois filhos lindos, que hoje preenchem minha vida de amor, felicidade e um sentimento único de família.
E todas as noites rezo pelo meu marido, meus filhos e agradeço a Deus pelo bem que tem me dado.
Rosalba Viegas
Abraços Paternos!
2 comentários:
Lindo depoimento!!! me emocionei.
lindho depoimento...
abração amigo e obrigada pelo carinho de sempre lá no meu cantinho.
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